segunda-feira, 18 de maio de 2009

O nosso apressadinho...

Mais uma manhã de Domingo. Acordar tarde, aproveitar os miminhos do meu maridinho... Eram estes os planos para este dia, que havia de ser o mais importante da minha vida.
Eram cerca de 11 horas quando disse ao L. que devia ir comprar pão fresquinho para o nosso pequeno almoço. Entre o levanta e não levanta, começo a sentir um líquido a escorrer por entre as pernas. Disse-lhe que se passava algo. Que, provavelmente, teríamos de passar pelo hospital. Fui de imediato à casa de banho e disse-lhe que devia ter uma ruptura. As minhas cuequitas estavam já bastante molhadas. Quando voltei para o quarto encontrei-o ao telefone com a minha irmã a dizer a seguinte frase: “O bebé vai nascer!”. Fiquei furiosa. Disse-lhe que provavelmente não passava de uma pequena ruptura. Com alguma sorte mandavam-me para casa com ordem para repouso absoluto.
Não tinha ainda a mala feita. Afinal faltava mais de um mês. Pegamos no que consideramos essencial e, quando a minha irmã chegou, partimos para a maternidade mais próxima. Quando lá chegamos, dirigi-me ao guichet e expliquei a situação. Enquanto falava senti mais líquido a escorrer por entre as pernas. Fiquei completamente encharcada e, percebi que já não sairia da maternidade.
Fui vista nas urgências de obstetrícia e confirmaram aquilo que já tinha percebido. Ia ser internada. O bebé estava bem. Tinha o colo acabado, líquido límpido e dedo e meio de dilatação. Disseram ao L. que podia ir almoçar descansado porque ainda ia demorar bastante tempo. Quem sabe até seria só no dia seguinte. Fui internada e ligada ao CTG. A enfermeira disse-me que não me podiam dar nada para acelerar o parto, porque o bebé só tinha 35 semanas (pela UPM tinha 34 semanas e 3 dias) e não podia ser sujeito a qualquer sofrimento. Mesmo os toques, teriam de ser em número reduzido. Comecei a ter algumas contracções, mas eram muito suaves...
Tinham passado cerca de duas horas quando o L. voltou. Disse-me que a minha irmã, mãe e a mãe dele estavam na sala de espera. Avisei que provavelmente ainda ia demorar, mas ele disse que elas não saíam dali sem o nosso pequenino estar cá fora. As horas foram passando, e as dores começaram a acentuar-se. Por volta das sete da tarde começaram a tornar-se menos suportáveis. A enfermeira entrou e fez-me mais um toque. O colo ainda teria de descer mais um pouco para poder levar a bendita epidural. Disse para ter força e aguentar. Mas as contracções estavam cada vez mais fortes e longas. Entretanto as dores eram tão acentuadas que já nem conseguia falar. Precisava de toda a concentração para as poder suportar. Resolvi chamar a enfermeira, porque já não aguentava mais. Fez-me mais um toque e felizmente já tinha dilatação suficiente para poder levar epidural. Mandou sair o L. e chamou a anestesista. E começou o tormento. Ajudou a enrolar-me para me colocar em posição e pediu-me para não me mexer um milímetro sequer. Um pedido muito cruel para quem estava com dores cada vez mais insuportáveis. Picou-me mas parece que algo correu mal e furou-me a membrana. Disse-me que teria de ficar de repouso por 24 horas... Nova picada. Dores na perna esquerda. "Também não serve, vamos ter de tentar novamente", informou-me. Já estava a desesperar e, arrependida de ter pedido anestesia. Entre as picadas mal sucedidas, numa posição desconfortável e, com contracções quase intoleráveis comecei a pensar que teria sido preferível aguentar o parto com dor. Mas à terceira tentativa a anestesista lá conseguiu inserir o cateter. Passado pouco tempo, a anestesia começou a fazer efeito e deixei de sentir dor. Sentia apenas uma pequena dormência na nádega esquerda em cada contracção. Daí até aos dez dedos de dilatação não passou mais de uma hora e meia. A enfermeira instruiu-me, então, sobre como deveria fazer força na sala de partos. Seguimos para lá e com a ajuda do L. e de outra enfermeira iniciamos o processo de nascimento do nosso bebé. Ele já estava bem em baixo, a enfermeira comentava que tinha pouco cabelo e tudo, mas faltava sempre um bocadinho de força para que ele saísse, pelo que uma das enfermeiras começou a empurrá-lo com as mãos fazendo força na minha barriga. Fiz força mais uma vez e surgiu o meu bebé... Colocaram-no em cima da minha barriga e, aquele que seria o momento mais importante das nossas vidas (minha e do L.) depressa se transformou num dos momentos de maior tormento à medida que percebíamos que algo não estava bem. O nosso pequenino estava branco como a cal e, não chorava. As enfermeiras aspiraram-no de imediato, cortaram o cordão e levaram-no para o auxiliarem na respiração. A pediatra apareceu para o avaliar e de um momento para o outro, por detrás de mim, apercebi-me que estavam vários enfermeiros a tentar ajudá-lo. Perguntei inúmeras vezes ao L. o que se passava, mas ele próprio estava demasiado nervoso e só me dizia que tínhamos que esperar. Acho que nunca o tinha visto tão assustado. Começamos a ouvir o nosso bebé a chorar, mas fazia-o com muito esforço. Uma das enfermeiras veio com ele perto de mim e disse-me que tinham de levá-lo porque estava com dificuldades respiratórias. O L. foi com ele. A pediatra veio ter comigo e disse-me que às 35 semanas os pulmões ainda não tinham atingido a maturidade suficiente para suportar o nosso ambiente, daí as dificuldades que revelava em respirar. Esperava não ter de o ventilar... E saiu. Ali fiquei eu, com duas enfermeiras que me cosiam, e a sentir o meu mundo a desabar.
Depois dos minutos intermináveis que demoraram a coser-me levaram-me para uma sala onde me puseram a soro. Pedi que me fossem dando notícias do meu filho, e a cada vez que o fazia, asseguravam-me que estava bem entregue. Uma das enfermeiras disse-me que enquanto não o transferissem para Lisboa estaria tudo bem. As duas horas seguintes seriam determinantes. Passado algum tempo levaram-me para um quarto onde já se encontravam duas mamãs e as suas filhas. Senti-me imensamente triste. Era suposto ter ali o meu bebé, como aquelas duas mães e, ali estava eu, sem saber o que lhe estava a acontecer. Passaram as duas horas e o L. veio ter comigo dizendo que estava imensa gente a tratar dele. Também não sabia muito bem o que se estava a passar, mas percebia que não estava a correr como os médicos pretendiam.
Por volta da 1 da manhã veio ter comigo a dizer que o iam levar para Lisboa. Desabei. Não aguentei mais e chorei durante horas. Os enfermeiros vinham ter comigo e confortavam-me dizendo que às 35 semanas a taxa de recuperação é muito elevada e que certamente tudo correria pelo melhor. Mas naquela altura a única coisa que eu queria era estar perto do meu bebé. Eram perto de 3 da manhã quando chegou a ambulância para o levar. Pedi que me deixassem ir com ele, mas disseram-me que tinha de fazer repouso. Trouxeram-me um lanchinho, mas eu só chorava. Não queria comer. Começava a deixar-me levar pelo desespero... Depois de muitas lágrimas corridas, acalmei um pouco e pensei que não podia continuar com aquela atitude. Estava a ser egoísta. Parei de chorar. O meu bebé haveria de melhorar e precisar de mim. Comi o que me tinham deixado e tentei controlar o choro. A enfermeira trouxe-me uma polaroid do meu pequerrucho. Apesar dos tubos estava lindo... Vários enfermeiros e auxiliares vieram ao meu quarto dar-me os parabéns por ter tido um bebé tão lindo. Trouxeram-me também um recado do meu Bebé. Dizia o seguinte: “Queridos pais, vou para o Hospital Maternidade Alfredo da Costa e fico na Unidade de Cuidados Intensivos. Podem telefonar pelo telefone xxxxxxxxx a pedir informações e logo que possam venham visitar-me!!!!! Vou ter saudades da vossa voz e dos vossos miminhos. O vosso filho.”
Chorei de emoção. A partir daquele momento senti que tudo só faria sentido com aquele pequeno ser perto de mim...


Ass. A mãe babada ;)

3 comentários:

Anônimo disse...

vim ver o teu blog por causa da decoração do quarto da minha bebe, e acabei a chorar!!! Não há condições!!! Espero que esteja tudo bem e que já o tenhas perto de ti. Beijo

Susana

Pingasso disse...

relembro que todos os relatos existentes no nosso blog, foram cedidos pelas mamãs.
Tenho a certeza que já todos se encontram bem, no aconchego do lar, alguns até a pregar algumas partidas aos pais, tal como pintar as paredes e amassar o gato lá de casa...;)

Pingasso

Cristina disse...

Só agora vim aqui espreitar e dei com o relato do meu parto... E já passaram quase nove meses. O David está óptimo e foi tudo tão maravilhoso (apesar do susto correu tudo bem) que já me apetece engravidar outra vez. É realmente mágico...